sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Abandono





Menino Ninguém.


[…..Só, está só, desamparado. No meio de gente…olha sem ver, ausente, em busca de….]


Falar sobre o abandono, dói…
Ter a capacidade de se colocar no lugar do outro, em determinadas circunstâncias, quase impossível.
Vejo e revejo as faces dos meninos mutilados em África. A amputação dolorosa de um membro, em cenário de guerra, marca para sempre sua vida.
Mesmo que uma prótese lhe confira alguma qualidade no resto da sua existência, uma série de dificuldades de ordem física e psicológica vão continuar.

[….Olho-me e não gosto. Aceito, tento ao máximo camuflar esse meu problema de auto imagem…]


A importância de um pai e uma mãe para uma criança, é uma necessidade imensurável.
Abandonadas pelos pais, essas crianças são carentes de carinho e afeto  os porquês, as perguntas sem respostas sobre os motivos, ficam nos restos das suas vidas. A aprendizagem difícil ao longo da vida.
 Os dias especiais… Aniversário, Dia da mãe, Natal, serão talvez, momentos mais dolorosos que os problemas de ordem física.
Ressentimento, permanece ao longo da vida.
Possível superar a rejeição e conviver com isto?


[…Nunca tive alguém a quem chamar mãe...]

É órfão aquele que perdeu os pais ou um deles, mas também aquele ser desprovido, desamparado, abandonado, privado de amor daqueles que deveriam ser o seu mais importante pilar na vida.
Um filho órfão, ou abandonado, perdeu a sua identidade, e um ponto de referência na sua vida.
 Crianças com rumos diferentes, marginais, revoltados, quiçá ou adultos exemplares, excelentes pais.
Os filhos destes filhos, são amados de uma forma plena, projetando neles sobretudo os afetos que não tiveram.

[….Ensinas-me os caminhos mais fáceis nos momentos difíceis…]


Revejo minha mãe, o amor, a saudade, a criança, fico triste. Sinto a tristeza, do abandono, desamparo, da rejeição.
Talvez haja perdão, mas o inesquecível perdura. A essência do ser aquilo que permanece, a identidade, está lesada.
Sou mãe, sou filha, quero dar algo de mim, não o insubstituível, mas o meu amor, afeto  ajudá-los.
Talvez nesse meu sonho, em África, voluntária, como gostaria.

[…até de pedras se fazem flores…]



Dedicados a eles:


Poema para um Menino--


Menino sem amor nascido
Menino sem amor gerado
Tão puro como um chão de trigo
 Crescido sem ser semeado

Quando à noite houver luar,
Mesmo que seja de frio,
Desce o rio, faz-te ao mar
Cabe lá sempre um navio!

Menino que de mim chegaste,
Menino que de mim partiste,
Chorei-me quando tu choraste,
Sorri-me quando tu sorriste…

Quando à noite houver luar,
Mesmo que seja de frio,
Sem navio pra embarcar,
Seja eu teu navio!

Luiz Goes



























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