Menino
Ninguém.
[…..Só, está só, desamparado. No meio de gente…olha sem ver,
ausente, em busca de….]
Falar sobre
o abandono, dói…
Ter a
capacidade de se colocar no lugar do outro, em determinadas circunstâncias,
quase impossível.
Vejo e
revejo as faces dos meninos mutilados em África. A amputação dolorosa de um
membro, em cenário de guerra, marca para sempre sua vida.
Mesmo que
uma prótese lhe confira alguma qualidade no resto da sua existência, uma série
de dificuldades de ordem física e psicológica vão continuar.
[….Olho-me
e não gosto. Aceito, tento ao máximo camuflar esse meu problema de auto
imagem…]
A
importância de um pai e uma mãe para uma criança, é uma necessidade
imensurável.
Abandonadas
pelos pais, essas crianças são carentes de carinho e afeto os porquês, as
perguntas sem respostas sobre os motivos, ficam nos restos das suas vidas. A
aprendizagem difícil ao longo da vida.
Os dias especiais… Aniversário, Dia da mãe,
Natal, serão talvez, momentos mais dolorosos que os problemas de ordem física.
Ressentimento,
permanece ao longo da vida.
Possível
superar a rejeição e conviver com isto?
[…Nunca
tive alguém a quem chamar mãe...]
É órfão
aquele que perdeu os pais ou um deles, mas também aquele ser desprovido, desamparado,
abandonado, privado de amor daqueles que deveriam ser o seu mais importante
pilar na vida.
Um filho
órfão, ou abandonado, perdeu a sua identidade, e um ponto de referência na sua
vida.
Crianças com rumos diferentes, marginais,
revoltados, quiçá ou adultos exemplares, excelentes pais.
Os filhos destes
filhos, são amados de uma forma plena, projetando neles sobretudo os afetos que não tiveram.
[….Ensinas-me
os caminhos mais fáceis nos momentos difíceis…]
Revejo minha
mãe, o amor, a saudade, a criança, fico triste. Sinto a tristeza, do abandono,
desamparo, da rejeição.
Talvez haja
perdão, mas o inesquecível perdura. A essência do ser aquilo que permanece, a
identidade, está lesada.
Sou mãe, sou
filha, quero dar algo de mim, não o insubstituível, mas o meu amor, afeto ajudá-los.
Talvez nesse
meu sonho, em África, voluntária, como gostaria.
[…até
de pedras se fazem flores…]
Dedicados a
eles:
Poema para
um Menino--
Menino sem
amor nascido
Menino sem
amor gerado
Tão puro
como um chão de trigo
Crescido sem ser semeado
Quando à
noite houver luar,
Mesmo que
seja de frio,
Desce o rio,
faz-te ao mar
Cabe lá
sempre um navio!
Menino que
de mim chegaste,
Menino que
de mim partiste,
Chorei-me
quando tu choraste,
Sorri-me
quando tu sorriste…
Quando à
noite houver luar,
Mesmo que
seja de frio,
Sem navio
pra embarcar,
Seja eu teu
navio!
Luiz Goes
Sem comentários:
Enviar um comentário